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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Especial - Melancolia


Melancholia - 2011 
Quando fiquei sabendo sobre Melancholia, até postei num fórum sobre cinema: “Mais um filme do esquisito Lars von Trier”.  Ainda com  Anticristo na cabeça fui aos cinemas, por recomendação de amigos, conferir mais essa produção deste estranho diretor.

Uma festa de casamento, um planeta em rota de colisão com a Terra, o relacionamento entre duas irmãs. Neste cenário minimalista  Lars von Trier constrói um das obras mais niilista que eu já vi.

Sai do cinema com a cabeça doendo tentando compreender o que aconteceu no filme. O que aconteceu com Justine, procurando explicações para entender principalmente o comportamento dela e a sua ligação com o planeta Melancholia.

Melancolia é um filme que vai alem de suas belas imagens, se não houver discussão, troca de experiências, busca de entendimentos o filme apenas passa, e você não sente, não percebe. Isso não quer dizer que o filme seja bom ou que seja ruim. Acho que vai muito do estado de espírito que esta no momento que o assiste. Pode ser que após algumas reflexões a idéia inicial que teve sobre o ele mude, e dê aquela vontade de revê-lo, agora com outros olhos. Foi mais ou menos isso que me aconteceu quando vi Melancolia. Fiquei tão intrigado que num acesso de fúria condenei o filme a um dos piores que eu tinha visto no ano. Mas venho revendo os meus conceitos percebo que é um dos sci fi mais filosóficos que eu já vi. 


IMDB: 7,9
NOTA: 7/10
Recomendado para quem curte discutir o filme após a sessão.



Divagando sobre o que tirei do filme, as próximas linhas pode comprometer a diversão de quem não viu ainda, já que pretendo expor aqui as muitas idéias que o filme me trouxe. Logo as próximas palavras são mais recomendadas á quem já assistiu.

Algumas Curiosidades:


 - Seria a atriz Penélope Cruz a protagonista, mas ela recusou para atuar em Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas

- O diretor Lars von Trier e  a atriz Charlotte Gainsbourg trabalham juntos também em Anticristo.
 - Lars von Trier criou uma grande polêmica na coletiva de imprensa realizada no Festival de Cannes, ao dizer que entendia Hitler e que se sentia como um nazista, em tom de "brincadeira". Como resultado, o diretor foi banido do Festival de Cannes.
  
- O orçamento do filme foi de US$ 7,4 milhões.



Algumas idéias sobre o filme.

As primeiras idéias vieram com um paralelo entre a vida de Justine e o fim do mundo. Na primeira parte do filme, o seu comportamento mostra que ela não esta bem, e que sutilmente todos já sabem disso. A ameaça aponta no horizonte, na forma de um planeta, mas quase ninguém percebe os riscos que estão por vir. Na segunda parte, ela aceita o seu destino, é declarada uma pessoa depressiva, e aos poucos se entrega a doença, assim como todos percebe a presença daquele gigantesco planeta que se aproxima, causando pavor e medo, ainda que muitos acreditem que nada de mal lhe acontecerão, já que o astro irá passar pela Terra, mas não vão se chocar. Porem isso não passa de esperança, o fim é certo, e no fim do filme se aproxima de forma gigantesca, engolindo tudo, sem perdão, sem salvação. Nesta primeira analise, o planeta Melancholia  é a depressão, que surge bem longe na vida de Justine, sendo percebida por poucos, e que vem crescendo como uma forte ameaça a sua vida, que é representada pelo nosso frágil planeta. E nada no mundo pode salvar aquele pequeno mundo. A colisão é inevitável, a morte é inevitável, no final, a depressão vence e Justine morre. A Terra morre.

Após algumas reflexões abandonei a idéia de paralelo da depressão de Justine com o fim do mundo e tomei outra direção. Aceitando a idéia do choque planetário como algo real na vida daquelas pessoas. Retratados minimamente, como uma família longe dos grandes centros urbanos via aproximação do fim do mundo. O filme mostra a reação daquelas pessoas de acordo com o seu estado psicológico.

Alguns são mais racionais, sabem da real situação e se mantém calmos durante a maior parte do tempo, evitando ao máximo a situação de pânico e de medo, até que aquilo se torne insustentável. Isso é retratado pelo astrólogo, pai da família. Mesmo sabendo que não tem muito que fazer, ele tenta proteger a sua família da real situação de derrota.

A parte do pânico, que vem seguida da aceitação, representada pela irmã. Ela busca primeiramente seu filho, e a proteção do mesmo.

E por ultimo a estrela do filme. A Depressão. Representada pela noiva. Aquela mulher tinha perdido tudo, sua vontade de viver, e a aproximação daquele planeta para ela significou a salvação, talvez por isso ela aceite e até mesmo se identifique com aquela presença nefasta.

Outro ponto que achei bacana também foi a idéia de criar algo para se proteger, no caso os mais ingênuos. Em certo momento do filme se fala sobre uma cabana mágica, que a tia oferece ao sobrinho pequeno, para a sua proteção. Com aquilo ela cria nele uma cresça que o conforta se preparando para o fim eminente. Isso eu relacionei com a religião, a idéia de proteção e no pior das hipóteses, salvação que é criada pelo homem. Geralmente oferecendo esse subterfúgio aos mais ingênuos e inocentes.

Depois de muito refletir, cheguei ao que seria a cereja do bolo para mim. A cabana mágica.

Ela é mais do que uma simples cabana, ela é mágica. Aquela cabana simples e humilde formada por cobertores está alem de simples proteção. Ela é mágica, justamente para que se possa atender qualquer aflição e suplica dos que por ela estão protegidos. Isso traz conforto para a criança, sem muitos questionamentos.

Vejo a cabana como a religião. O mágico seria uma alusão ao divino. Algo que protege: uma cabana. Uma cabana mágica seria algo que protege de todos os males. Que dá esperanças. Na eminência do fim do mundo o menino se refugiou na cabana, para se proteger. Para ter esperanças que tudo vai ficar bem.


Mas agora vem a pior parte, a parte real, ou o que eu chamo de soco na cara. A cabana foi criada pela tia. Ou seja, uma pessoa, um ser humano. A cabana foi criada para acriança para confortá-la, escondendo ela do medo, do desconhecido, da morte. A criança é ingênua, e ela acredita, pois é inocente. Uma mentirinha que se conta a uma criança para poder acalmá-la.

Em outras palavras. A religião é algo criado pelos homens para enganar outros homens mais ingênuos. Com o objetivo de protegê-los, mesmo que isso os engane. Seria isso ruim? Penso que não. A tia não tinha hora nenhuma intenção de prejudicar o menino. Mas criou-se uma esperança nele, atravez da cabana, que trouxe conforto. Talvez a religião seja no fim das contas isso. Algo criado para nos trazer conforto, nos enganando da dura realidade.

Talvez este não seja o grande mote do filme. Até porque isso esta bem mais implícito. A depressão e os comportamentos das pessoas tem muito mais destaque no filme. Mas os filmes do Lars von Trier são como pinturas artísticas, cada um busca neles um significado que melhor atende.



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