Melancholia - 2011
Quando fiquei sabendo sobre Melancholia, até postei num
fórum sobre cinema: “Mais um filme do esquisito Lars von Trier”. Ainda com Anticristo na cabeça fui aos
cinemas, por recomendação de amigos, conferir mais essa produção deste estranho
diretor.
Uma festa de casamento, um planeta em rota de colisão com a
Terra, o relacionamento entre duas irmãs. Neste cenário minimalista Lars von Trier constrói um das obras mais
niilista que eu já vi.
Sai do cinema com a cabeça doendo tentando compreender o que
aconteceu no filme. O que aconteceu com Justine, procurando explicações para
entender principalmente o comportamento dela e a sua ligação com o planeta
Melancholia.
Melancolia é um filme
que vai alem de suas belas imagens, se não houver discussão, troca de
experiências, busca de entendimentos o filme apenas passa, e você não sente,
não percebe. Isso não quer dizer que o filme seja bom ou que seja ruim. Acho
que vai muito do estado de espírito que esta no momento que o assiste. Pode ser
que após algumas reflexões a idéia inicial que teve sobre o ele mude, e dê
aquela vontade de revê-lo, agora com outros olhos. Foi mais ou menos isso que
me aconteceu quando vi Melancolia. Fiquei tão intrigado que num acesso de fúria
condenei o filme a um dos piores que eu tinha visto no ano. Mas venho revendo
os meus conceitos percebo que é um dos sci fi mais filosóficos que eu já vi.
IMDB: 7,9
NOTA: 7/10
Recomendado para quem curte discutir o filme após a sessão.
Divagando sobre o que tirei do filme, as próximas linhas
pode comprometer a diversão de quem não viu ainda, já que pretendo expor aqui
as muitas idéias que o filme me trouxe. Logo as próximas palavras são mais
recomendadas á quem já assistiu.
Algumas Curiosidades:
- Seria a atriz Penélope Cruz a protagonista, mas ela recusou para atuar em Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas
- Seria a atriz Penélope Cruz a protagonista, mas ela recusou para atuar em Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas
- O diretor Lars von Trier e a atriz Charlotte Gainsbourg trabalham juntos também em Anticristo.
- Lars von Trier criou uma grande polêmica na coletiva de imprensa realizada no
Festival de Cannes, ao dizer que entendia Hitler e que se sentia como um
nazista, em tom de "brincadeira". Como resultado, o diretor foi
banido do Festival de Cannes.
- O orçamento do filme foi de US$ 7,4 milhões.
Algumas idéias sobre o filme.
As primeiras idéias vieram com um paralelo entre a vida de
Justine e o fim do mundo. Na primeira parte do filme, o seu comportamento
mostra que ela não esta bem, e que sutilmente todos já sabem disso. A ameaça
aponta no horizonte, na forma de um planeta, mas quase ninguém percebe os riscos
que estão por vir. Na segunda parte, ela aceita o seu destino, é declarada uma
pessoa depressiva, e aos poucos se entrega a doença, assim como todos percebe a
presença daquele gigantesco planeta que se aproxima, causando pavor
e medo, ainda que muitos acreditem que nada de mal lhe acontecerão, já que o astro
irá passar pela Terra, mas não vão se chocar. Porem isso não passa de
esperança, o fim é certo, e no fim do filme se aproxima de forma gigantesca,
engolindo tudo, sem perdão, sem salvação. Nesta primeira analise, o planeta
Melancholia é a depressão, que surge bem
longe na vida de Justine, sendo percebida por poucos, e que vem crescendo como
uma forte ameaça a sua vida, que é representada pelo nosso frágil planeta. E
nada no mundo pode salvar aquele pequeno mundo. A colisão é inevitável, a morte
é inevitável, no final, a depressão vence e Justine morre. A Terra morre.
Após algumas reflexões abandonei a idéia de paralelo da
depressão de Justine com o fim do mundo e tomei outra direção. Aceitando a
idéia do choque planetário como algo real na vida daquelas pessoas. Retratados
minimamente, como uma família longe dos grandes centros urbanos via aproximação
do fim do mundo. O filme mostra a reação daquelas pessoas de acordo com o seu
estado psicológico.
Alguns são mais racionais, sabem da real situação e se mantém
calmos durante a maior parte do tempo, evitando ao máximo a situação de pânico
e de medo, até que aquilo se torne insustentável. Isso é retratado pelo
astrólogo, pai da família. Mesmo sabendo que não tem muito que fazer, ele tenta
proteger a sua família da real situação de derrota.
A parte do pânico, que vem seguida da aceitação,
representada pela irmã. Ela busca primeiramente seu filho, e a proteção do
mesmo.
E por ultimo a estrela do filme. A Depressão. Representada
pela noiva. Aquela mulher tinha perdido tudo, sua vontade de viver, e a
aproximação daquele planeta para ela significou a salvação, talvez por isso ela
aceite e até mesmo se identifique com aquela presença nefasta.
Outro ponto que achei bacana também foi a idéia de criar
algo para se proteger, no caso os mais ingênuos. Em certo momento do filme se
fala sobre uma cabana mágica, que a tia oferece ao sobrinho pequeno, para a sua
proteção. Com aquilo ela cria nele uma cresça que o conforta se preparando para
o fim eminente. Isso eu relacionei com a religião, a idéia de proteção e no
pior das hipóteses, salvação que é criada pelo homem. Geralmente oferecendo
esse subterfúgio aos mais ingênuos e inocentes.
Depois de muito refletir, cheguei ao que seria a cereja do
bolo para mim. A cabana mágica.
Ela é mais do que uma simples cabana, ela é mágica. Aquela
cabana simples e humilde formada por cobertores está alem de simples proteção. Ela
é mágica, justamente para que se possa atender qualquer aflição e suplica dos
que por ela estão protegidos. Isso traz conforto para a criança, sem muitos
questionamentos.
Vejo a cabana como a religião. O mágico seria uma alusão ao
divino. Algo que protege: uma cabana. Uma cabana mágica seria algo que protege
de todos os males. Que dá esperanças. Na eminência do fim do mundo o menino se
refugiou na cabana, para se proteger. Para ter esperanças que tudo vai ficar
bem.
Mas agora vem a pior parte, a parte real, ou o que eu chamo
de soco na cara. A cabana foi criada pela tia. Ou seja, uma pessoa, um ser
humano. A cabana foi criada para acriança para confortá-la, escondendo ela do
medo, do desconhecido, da morte. A criança é ingênua, e ela acredita, pois é
inocente. Uma mentirinha que se conta a uma criança para poder acalmá-la.
Em outras palavras. A religião é algo criado pelos homens
para enganar outros homens mais ingênuos. Com o objetivo de protegê-los, mesmo
que isso os engane. Seria isso ruim? Penso que não. A tia não tinha hora
nenhuma intenção de prejudicar o menino. Mas criou-se uma esperança nele,
atravez da cabana, que trouxe conforto. Talvez a religião seja no fim das
contas isso. Algo criado para nos trazer conforto, nos enganando da dura
realidade.
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